O que agora nos foi proposto, convida-nos, a nós médicos e agentes de saúde, a acreditar em Deus que é Amor ou nos valores que a nossa consciência propõe, e a comunicá-lo aos outros, que também são
amados por Deus.


Deus Amor, acreditar no seu amor e torná-lo ideal de nossa vida é, portanto, o primeiro ponto da espiritualidade da unidade. Isto significa ter a certeza de que nunca estamos sozinhos no desempenho de nossa missão no mundo da saúde em prol do ser humano, e de perseverarmos não obstante as várias dificuldades que podemos encontrar. Quem abraçou esta profissão não por conveniência, mas devido a uma escolha de vida, já fez, certamente, tal experiência. Não se explicaria, de outra forma, o fato que experimentamos a liberdade e, ao mesmo tempo, o dever de nos dedicar a um ideal muito maior do que nós, se, interiormente - crentes ou não - não existisse Alguém ou alguma coisa que nos empurrasse para além da nossa medida individual. Na verdade, a escolha de trabalhar no campo da saúde é a resposta – consciente ou não – a uma chamada de Deus Amor. É o próprio Deus – assim pensam aqueles que têm fé – que nos impulsiona a fazer do ser humano não um objeto do nosso trabalho, mas um sujeito a ser respeitado, estimado, amado, colocando à sua disposição toda a própria competência e profissionalismo. Por outro lado, o amor, o impulso de amar está contido no DNA de cada homem.

Amar faz parte da sua natureza.
Quem sente vocação para o campo da saúde, entendida como um serviço ao ser humano, à vida, não leva em consideração o interesse próprio, não assume somente a responsabilidade de si
próprio, mas experimenta algo de universal dentro de si. Cada escolha verdadeira de serviço inspira-se nesta força que, como Chiara já evidenciou, é a presença do amor de Deus em nós ou daqueles valores humanos verdadeiros, que a consciência, no mais profundo de nós, evidencia e nos impulsiona a viver, se soubermos escutar a sua voz.
Por outro lado, se os ideais a que muitos de nós nos propusemos ao iniciar nosso caminho no mundo da saúde, talvez desde estudantes, eram os mais variados, todos válidos e por vezes
altos demais, mesmo se limitados por aquilo que conseguíamos entender no momento da escolha, com o passar do tempo podem ter sido infiltrados de amargura e, muitas vezes, de desilusão, o que pode tê-los obscurecido. Ou mesmo, podem ter sido envolvidos com o amorpróprio, a ambição, a carreira, a auto-afirmação ou com a tentação do ganho fácil, perdendo-se de vista, desta maneira, com o passar do tempo, a finalidade do nosso trabalho: o ser humano.
A espiritualidade do Movimento dos Focolares, ajudando-nos a acreditar no amor de Deus, nos ajuda, nos coloca continuamente na possibilidade de retornar à primeira escolha daquele ideal que
conduziu cada um de nós.

Deus Amor
Não somente: o amor de Deus não é, certamente, dirigido somente a nós. Crer no seu amor significa acreditar que Deus ama a todos. Uma primeira e importante conseqüência disto, consiste no fato que, aquele que realizou uma escolha diferente da minha, pode ter agido sob a mesma influência do amor de Deus. Isto nos ajuda a nos colocar diante do colega numa posição de escuta e de compreensão, de respeito e de reconhecimento. E isto ainda se torna mais possível se considerarmos o outro como um irmão.
A própria paixão pela nossa profissão, não pode não ser senão a procura apaixonada de soluções, de idéias, de compreensão e de competência profissional, também em diálogo com os demais, com vantagem seja para o nosso próprio trabalho, seja para aqueles da equipe, a fim de não cairmos no risco que se torne mera paixão por nós mesmos que nos identificamos com aquele trabalho.
Acreditar no amor de Deus por todos nos leva, portanto, a fazer escolhas que sabemos ser as escolhas de Deus: pelos mais fracos, pelos mais sofredores, pelos mais necessitados de ajuda. Mais ainda, o médico, o agente de saúde, imbuído por esta fé, assume o homem, principalmente o mais fraco, o último, como a medida da sua ação.
De fato, o amor leva-nos a estabelecer prioridades no trabalho que levem em conta o bem necessário para o ser humano e em prol do mesmo, a fim de proteger aquele bem inestimável que é a saúde, quer na prática médica propriamente dita, quer na pesquisa científica, mesmo se isto pode ser impopular e colocar em risco até mesmo a própria carreira.

É exatamente nestas escolhas que devemos acreditar em Deus Amor, o qual nunca nos deixará sós no nosso agir, mas nos ajudará através de circunstâncias e pessoas, a fim de que nosso
exemplo possa ajudar outros a se comportarem de maneira semelhante.
Amar é, portanto, sempre possível: não somente nos relacionamentos pessoais, mas também naqueles profissionais, e amar não somente o ser sofredor que se confia a nós, mas também o
colega e aqueles com quem trabalhamos lado a lado. Estabelecer com todos um relacionamento de estima e de respeito, de caridade. E tudo isto é vantajoso não somente para o nosso trabalho, mas para o de todos.
Às vezes, pode acontecer que alguns de nós trabalhem num ambiente marcado por rivalidades, ciúmes, carreirismo: uma primeira forma de resistir a estas difíceis situações e andar avante, consiste em manter a caridade, procurando compreender o porquê do comportamento do outro, mesmo se isto custe e seja difícil.
Freqüentemente se vê como esse modo de enfrentar as dificuldades
desarma e chega a mudar situações que pareciam intransponíveis.
Algumas vezes podemos sentir-nos criticados pelo nosso modo
de agir, obstaculados mas, se superamos o nosso amor próprio que
pode sentir-se ferido, e não cessamos de amar mantendo, apesar de
tudo, uma atitude aberta de confiança e não de defesa e ofensa,
criamos no outro um espaço onde ele entra no circuito do amor de tal
maneira que, aquilo que poderia ser negativo, se transforma em
positivo. Tal comportamento de nossa parte certamente não demonstra
fraqueza, mas, pelo contrário, força e superioridade interior.
Deus Amor
Reflexões para a conduta médica

Anna Frata
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Aceitar, portanto, a verificação do próprio agir pode tornar-se
motivo de crescimento e de melhoria, inclusive no campo profissional e
nos torna livres, abertos para acolher sugestões que permitam
encontrar soluções antes inimagináveis.
Se mantivermos a caridade para com todos, sem julgamentos,
mas procurando descobrir o amor e a reta intenção que pode existir
no outro, indo além das aparências, podemos ajudá-lo a descobrir o
amor em si mesmo e a retificar a própria atitude, se for o caso.
Enfim, se nos esforçarmos, dentro do possível, para fazer de
nossas aptidões e de nossa profissão um serviço de amor, onde quer
que trabalhemos, tanto no exercício da medicina, em contato direto
com o homem sofredor, como no campo da pesquisa e da experiência
científica, poderemos, com nosso exemplo, encorajar outros a amar;
poderemos, também nós, contribuir para levar ao mundo da saúde um
vulto mais humano, mais verdadeiro. Uma sanidade que, partindo do
amor e do respeito pelo ser humano, seja realmente apta a garantir e
proteger sua dignidade e sua saúde.
Aqui estão apenas alguns pontos, algumas considerações para
uma reflexão que nos leve a compreender, ao menos um pouco, qual
impacto, qual revolução pode ser operada no campo da saúde, o fato
de se acreditar na força do amor de Deus em nós e de se procurar
viver coerentemente.

Anna Frata
Dos escritos de Chiara Lubich


Livro:
«PER UNA SANITÀ DI COMUNIONE»
Il carisma dell ́unità e la medicina
Tradução:
POR UMA SAÚDE DE COMUNHÃO (título)
O carisma da unidade e a medicina (sub título)
HDC «Health Dialogue Culture»

Fátima de Souza Pinto e Rosa Maria Miranda Moreira

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