A RELAÇÃO entre saúde e espiritualidade está fortemente presente em toda a tradição cristã, como dom e caminho. Além disso, a espiritualidade é um dos aspectos que compõem o conceito de bem-estar completo do ser humano; por meio dela, é possível enfrentar adversidades sem perder a esperança de superá-las.

Sendo assim, criar e manter metodologias que fortaleçam-na é importante para estreitar e conduzir a relação entre pacientes e profissionais da saúde.
A espiritualidade possibilita à prática de cuidados em saúde alguns efeitos como o fomento de relações harmoniosas dos profissionais de saúde entre si e com os pacientes; o atendimento mais humanizado e o acolhimento dos pacientes em suas necessidades, em um espaço onde possam ser ouvidos de forma plena. Esses e outros
resultados, por sua vez, têm relação direta com o que tem afirmado o papa Francisco, ao longo do seu ministério, cujo testemunho é um sinal tangível da presença e do amor de Deus sobre a humanidade, particularmente os mais excluídos.
Em sua visita ao Centro Internacional de Formação do Movimento dos Focolares, em Loppiano (Itália), em 2018, o papa defendeu o valor da espiritualidade “do nós”. “O Carisma da Unidade é um estímulo providencial e uma ajuda potente para vivermos esta mística evangélica do nós, ou seja, para caminharmos juntos na história dos homens e das mulheres do nosso tempo como ‘um só coração e uma só alma’ (Cf. At 4,32), descobrindo-nos e amando-nos concretamente como ‘membros uns dos outros’” (Cf. Rm 12,5).
A “espiritualidade do nós” é absolutamente necessária no mundo da saúde! Como disse Francisco, trata-se de uma espiritualidade que não é um fato só espiritual, mas realidade concreta, com formidáveis consequências se a vivermos com autenticidade e coragem em nossas realidades de trabalho, em nossas comunidades, em níveis social, econômico, cultural, político etc.
Ele nos adverte sempre que isso pede humildade, abertura, sinergia, capacidade de correr risco, sempre confiando na graça de Deus.
Desde o início do pontificado, Francisco publicou sete mensagens para o Dia Mundial dos Enfermos (11 de fevereiro) em que enfatiza valores como a fé, a gratuidade, a misericórdia, a solidariedade. Às instituições católicas de saúde, por exemplo, encorajou-as a levar avante a “fantasia criativa” dos seus fundadores, buscando basear-se na otimização dos recursos de modo ético e solidário, no trabalho e respeito pleno pela vida (desde o nascimento até a morte), na necessidade da oferta de condições materiais justas para atenção em saúde a todos; nas ações da comunidade para responder à “epidemia de solidão” do mundo e assim por diante.
Para todas essas ações, o papa propõe observar sete princípios: é preciso reconhecer Jesus na pessoa do enfermo; a doença não tem a última palavra; o testemunho dos cristãos; manifestar a dignidade inviolável da concepção ao último suspiro; “ministros da Vida”, que levam antes de tudo apoio espiritual; levar a esperança e o sorriso de Deus (mesmo quando há uma aparente “contradição divina” nos momentos de sofrimento); nunca abandonar os doentes. Essas são categorias que podem nortear o cuidado em saúde e oferecer linhas gerais para um diálogo efetivo entre essa área e a fé, o qual pode ser útil em primeiro lugar aos profissionais da área (cristãos católicos e outros) que buscam luzes para uma prática, construída sobre um novo humanismo e capaz de responder aos desafios e anseios da humanidade, hoje.

Paulo Celso Nogueira Fontão

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